sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Pode-se adoecer por isso...

Assédio moral

Contorne as situações humilhantes na empresa de maneira construtiva

Por Isabella Guerreiro • 15/10/2009

Enfrentar uma situação de assédio moral no trabalho é cada vez mais comum. Para se ter uma ideia, o número de processos investigatórios instaurados pelo Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro aumentou 588,2% nos últimos quatro anos. Some-se a isso a dificuldade de lidar com o problema: a vivência repetida e prolongada de circunstâncias humilhantes e vexatórias durante a jornada de trabalho, como exigência de missões impossíveis, delegação de tarefas inexpressivas, desqualificação do empregado, perseguição e desrespeito às atribuições estabelecidas por contrato.

Sair desses e outros constrangimentos é delicado, mas especialistas dão dicas de como tentar resolver a questão de cabeça erguida.

O que é assédio moral?

Assédio moral é a exposição de trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras pelo patrão ou chefe por repetidas e prolongadas vezes durante a jornada de trabalho. Não é um fato isolado, mas uma conduta que tem longa duração e é caracterizada por ser desumana e desprovida de ética, de uma maneira que desestabiliza o funcionário. "É uma relação de poder distorcida entre a hierarquia superior e os subordinados. Como quando há uma cobrança excessiva, inclusive exigindo a repetição da tarefa sem necessidade por várias vezes; pedidos frequentes para se chegar antes do horário e executar um serviço que não é adequado à função; além da desqualificação do trabalho do empregado com ofensas ou com atribuição de tarefas menores", aponta o psicólogo Lindomar Darós.

Estabelecer metas impossíveis de se realizar, cobrar por elas de maneira vexatória, atacar à vida pessoal, limitar idas ao banheiro e dificultar o acesso ao material de trabalho são outros exemplos comuns de assédio moral.

Ao denunciar, o tom não deve ser de crítica, vingança ou ameaça e, sim, de alguém que espera ver seu problema tratado com a devida atenção

A conduta ilícita acaba se transformando em perseguição e violência psicológica. A vítima do assédio costuma ser isolada do grupo sem mais explicações e passa a ser hostilizada, ridicularizada e desacreditada diante da equipe. "O objetivo desse tipo de chefe é que o funcionário troque de departamento ou se sinta forçado a desistir do emprego. O assédio é muito praticado na esfera pública, onde o empregado não pode ser demitido sem solenidade", diz o procurador Wilson Prudente.

Procure aliados


O psicólogo e psicoterapeuta Lindomar Darós aconselha que, se possível, o empregado procure o chefe ou um funcionário de cargo intermediário com quem possa conversar. "É importante mapear as pessoas em quem se confie e tentar esclarecer, da melhor maneira, como as coisas devem ser, quais são suas funções, qual é o seu horário e o que não é o seu trabalho. Estabelecer território." Mas como fazer isso sem piorar a situação e acabar provocando ainda mais um clima de perseguição dentro da empresa?

"O tom não deve ser de crítica, vingança ou ameaça e, sim, de alguém que espera ver seu problema tratado com a devida atenção", explica a consultora de comportamento profissional do Etiqueta Empresarial, Maria Aparecida Araújo. Ela recomenda que o funcionário junte documentos que provem o assédio moral e leve os papéis para a conversa. "Inicialmente, é necessário que o funcionário traga elementos concretos e não afirmações fortuitas. Recomendo que ele colha o máximo de elementos para basear a sua acusação. Isso pode ser feito através de e-mails trocados com a pessoa que o estiver assediando, gravação de conversas e filmagem oculta. Com os documentos em mãos, a conversa por si só tomará um aspecto mais sério, evitando a necessidade de sair do tom e qualquer tipo de exaltação".

Maria Aparecida acredita que o ideal é procurar alguém do setor de Recursos Humanos para expor o assunto. "Informe o fato, solicitando providências. Nessa oportunidade, o empregado deverá estipular um prazo para voltar a procurar essa pessoa, a fim de obter um relato das medidas tomadas e soluções efetivas para a eliminação do problema".

Problema de equipe

Quando o assédio moral não é com você, mas com um colega, é possível ajudá-lo sem se comprometer. Para Darós, o empregado pode estimular a equipe a pensar sobre as condições de trabalho e criar um espaço para o debate. "Os funcionários podem fazer reuniões frequentes para discutir as questões, ter clareza da hierarquia, perguntar se todos estão satisfeitos e enfrentar juntos o desrespeito. Em grupo, o problema é abordado e deixa de ser visto como mexerico".

Maria Aparecida lembra que um empregado também pode auxiliar o outro sendo testemunha. "O funcionário pode conversar com o colega que está sendo vítima do assédio, perguntar se ele precisa de ajuda e se oferecer para estar presente, sempre que possível, durante as conversas entre o assediado e o assediador, servindo como uma testemunha. De certa maneira, isso inibe ainda ações mais agressivas e desagradáveis por parte do chefe".

Se nada adiantar para acabar com o assédio moral e evitar ser alvo de condutas que violam sua dignidade, é hora de partir para a denúncia e exigir na Justiça o ressarcimento por danos morais

Já o líder acusado de assédio moral deve abrir um espaço para ouvir os funcionários se quiser reconquistar sua equipe, orienta Darós. "Se o assunto for colocado em debate, será mais difícil ter uma relação de poder tão distorcida. Quando a gente cria a possibilidade do diálogo, é possível ouvir a queixa e se retratar".

Maria Aparecida recomenda que o chefe faça cursos especializados a fim de contornar a situação. "Matricule-se rapidamente em aulas de etiqueta empresarial e de liderança, submeta-se a sessões de coaching em relações humanas e procure, a cada dia, deixar bem clara a mudança de atitude para todos os colaboradores".

Fim da linha

Se nada disso adiantar, para acabar com o assédio moral e evitar ser alvo de condutas que violam sua dignidade, é hora de partir para a denúncia e exigir na Justiça o ressarcimento por danos morais. "O assédio moral é uma conduta ilícita, uma infração trabalhista do empregador. Muitas pessoas sofriam e não sabiam que eram vítimas. É uma situação difícil de provar e, nos casos mais graves, o funcionário termina em um consultório psiquiátrico. O objetivo desses chefes é ver o trabalhador pelas costas", comenta o procurador Wilson Prudente. Ele orienta que, nesse caso, o empregado junte todas as provas e procure um advogado, a Defensoria Pública ou o Ministério Público do Trabalho.

Denúncias podem ser feitas ao Ministério Público do Trabalho da sua cidade.

http://www.pgt.mpt.gov.br/component/option,com_denuncia/It


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